De acordo com a BBC News, ao menos três casos de supostos espiões russos sob identidades brasileiras foram detectados nos últimos meses. De acordo com autoridades procuradas pela reportagem, “uma identidade brasileira falsa e uma vida paralela no Brasil seria ideal para que esses agentes circulassem por espaços de poder não só no país, mas em todo mundo, sem despertar desconfiança nos serviços de inteligência da Europa e dos Estados Unidos, por exemplo.”
Apesar de terem conversado com investigadores, agentes de inteligência e oficiais de cartórios de Estados variados em busca de uma explicação de por que o Brasil teria sido escolhido pela Rússia como o ponto de partida de alguns dos agentes que fariam parte de uma elite de espionagem, a Polícia Federal, a embaixada o consulado-geral da Rússia no Brasil não se manifestaram sobre as acusações.
Integrantes da comunidade de inteligência brasileira, investigadores e pessoas que conhecem o sistema de registro cartorial no Brasil e foram procurados pela BBC News Brasil pontuam três principais motivos para que os Russos tenham escolhido o país como berço para seus espiões:
fragilidades dos sistemas de emissão e controle de documentos no Brasil;
histórico de não envolvimento do país em conflitos internacionais;
população miscigenada.
Espiões Russos assumem identidade brasileira
O primeiro caso a vir à tona foi o do russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, que usava a identidade brasileira de Victor Muller Ferreira e havia se candidatado ao posto de estágio não remunerado no Tribunal Penal Internacional.
De acordo com o FBI, bem como a Polícia Federal do Brasil, além de Sergey, ao menos outros três casos de supostos espiões russos sob identidades brasileiras foram detectados nos últimos meses. Segundo as autoridades, eles usaram o Brasil e suas identidades brasileiras como ponto de partida para suas atuações em países como os Estados Unidos, Irlanda e Noruega. Até o momento, ainda não há evidências de que eles teriam espionado instituições ou autoridades brasileiras.
Sergey Cherkasov foi desoberto em abril de 2022 quando tentava entrar em Amsterdã e foi mandado de volta ao Brasil. As investigações conduzidas por holandeses, americanos e brasileiros apontam que Cherkasov era um agente do GRU, um dos serviços de inteligência das Forças Armadas russas. Ele foi condenado a 15 anos de prisão no Brasil por uso de documento falso, e no processo, admitiu ter se passado por brasileiro, mas nega ser um espião. Em uma audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), ele se recusou a responder quando foi perguntado sobre o tema.
Poucos meses depois veio à tona o segundo caso descoberto pelas autoridades da Noruega. O “brasileiro”, José de Assis Giammaria, na verdade é Mikhail Mikushin, e segundo as autoridades norueguesas, ele é um coronel russo que fingia ser brasileiro e atuava como pesquisador na Universidade do Ártico da Noruega, país com quem a Rússia faz fronteira.
O terceiro caso surgiu em 2023 depois que uma brasileira reportou o desaparecimento de seu namorado, o também “brasileiro” Gerhard Daniel Campos. Porém, de acordo com as autoridades da Grécia, Campos, na realidade, seria um espião russo cujo verdadeiro sobrenome é Shmyrev.
Fonte: BBC News