Após a mãe convencer testemunhas a prestarem depoimento, MP abriu uma denúncia contra os policiais
PMs teriam plantado uma arma ao lado do corpo para simular uma troca de tiros
Após uma mãe investigar por conta própria o assassinato de seu filho mais velho, o Ministério Público denunciou dois policiais militares de São Paulo por homicídio qualificado e fraude processual.
Peterson Silva de Oliveira, de 18 anos, morreu na noite de 14 de janeiro de 2017. Ele foi atingido por um tiro na nuca em uma ação da Polícia Militar para dispersar uma festa na zona sul da capital paulista.
Testemunhas ouvidas pela Polícia Civil contaram a mesma versão: os agentes da polícia usaram bombas de efeito moral contra os participantes da festa, dirigiram a viatura em alta velocidade e dispararam um tiro.
Assustados com o barulho do disparo, os jovens começaram a correr e foi então que a polícia atirou contra Peterson.
Em entrevista ao UOL, Tatiana Lima e Silva, mãe da vítima, diz que inicialmente foi tratada como “mãe de bandido” pela polícia. No entanto, isso não a impediu de conduzir uma investigação paralela sobre a morte do filho.
“As câmeras ou não gravavam ou estavam desligadas. Pedi para todas as testemunhas do caso prestarem depoimento sobre o que de fato viram. Eu que fui atrás de todas as testemunhas. De todas. E eu as levei até o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). Foram seis. De imediato, todos já se propuseram a depor.”
Ambos os policiais acusados pelo MP foram afastados da função. No inquérito, o cabo Willian José Pinto e o soldado Ricardo Awazu Fidelis Silva alegam que Peterson atirou contra eles primeiro. Todas as testemunhas negam.
“O crime foi praticado com emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, a qual estava correndo no sentido contrário da guarnição”, afirmou ao UOL o promotor Enzo de Almeira Carrara Boncompagni, responsável pela acusação.
Consta na denúncia que o cabo Pinto foi o autor do disparo que matou Peterson, e os policiais “intrujaram” um revólver calibre 38, com numeração raspada, ao lado do corpo para simular uma troca de tiros.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, a investigação do inquérito policial se encontra na fase final. A advogada que defende a família, Rachel Amato, diz esperar “que isso represente um símbolo para outros casos de violência policial.”