Nossas palavras tem o poder de curar e de ferir. Mas não podemos usá-las de qualquer forma. O justo e o ímpio se distinguem em muitas coisas e, de acordo com a Palavra de Deus, não é só no seu caráter e atitudes, mas também na forma de falar:
A boca do justo é manancial de vida, mas na boca dos perversos mora a violência” Provérbios 10.11
Da boca do justo jorra vida; ou seja, palavras que vivificam, que comunicam vida espiritual (e mesmo emocional). Por outro lado, da boca do ímpio flui violência (palavras que ferem, que matam). De acordo com este texto, a violência no lar não é só física, mas também verbal. E pior: é uma característica do comportamento do ímpio. Confirmando esta verdade (que palavras ferem ou curam) a Bíblia ainda afirma:
“Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada, mas a língua dos sábios é medicina”. Provérbios 12.18
Nossas palavras possuem um poder maior do que conseguimos mensurar. Elas podem produzir vida ou morte!
“A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto” Provérbios 18.21
Precisamos ter o cuidado com a forma de falar, pois, a maneira errada de falar não trará dano só a quem nos ouve. O problema também nos atinge! O livro de Provérbios mostra que guardar a boca (as palavras) é conservar a alma; por outro lado, o muito abrir os lábios (falar demais) traz ruína para quem fala:
“Do fruto da boca o homem comerá o bem, mas o desejo dos pérfidos é a violência. O que guarda a boca conserva a sua alma, mas o que muito abre os lábios a si mesmo se arruína”. Provérbios 13.2,3
Há momentos em que o silêncio é a maior expressão de sabedoria. Falar com o coração irado ou exasperado nunca fará bem a ninguém (nem ao que fala). Na hora das emoções alteradas devemos reter as palavras, quando o espírito estiver sereno, ai é inteligente falar:
“Quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência” Provérbios 17.27
As Escrituras ainda nos revelam que falar de modo sereno traz cura enquanto que a língua perversa, por sua vez, traz mal trato ao íntimo (quebranta o espírito):
A língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a estultícia. A língua serena é árvore de vida, mas a perversa quebranta o espírito” Provérbios 15.2,4
“O homem se alegra em dar resposta adequada, e a palavra, a seu tempo, quão boa é”. Provérbios 15.23
CONSEQUÊNCIAS DA NOSSA FORMA DE FALAR
A maneira de falarmos que adotamos produzirá consequências. A consciência deste fato pode nos ajudar a refletir sobre a forma correta de falar e, assim, evitarmos muitos transtornos e dissabores nos relacionamentos.
“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira” Provérbios 15.1
Quando alguém já está emocionalmente alterado, a maneira branda de falar irá aplacar seu sentimento e, de acordo com a Palavra de Deus, desviar seu furor. Por outro lado, uma palavra dura irá suscitar a ira. Portanto, precisamos aprender com a sabedoria bíblica (bem como com a humildade de Cristo) a sermos brandos em nossa forma de falar.
É por isso que em muitos casamento a maior parte das tentativas de discutir a relação terminam em briga. As emoções já encontram-se carregadas e, para piorar, as palavras duras só aumentam a ira já represada dentro do cônjuge.
Depois de muitos anos de ministério pastoral e aconselhamento comecei a entender um pouco mais do porque as mulheres se queixam tanto com seus maridos sobre a forma de falar. A célebre frase “não é o quê você fala e sim como fala que incomoda” repetida pelas esposas em todos os lugares, é mais do que uma grande coincidência. É um fato! A forma de falar tem sido um grande problema para os relacionamentos, especialmente a forma de falar dos maridos!
Não adianta ser excessivamente duro em exercitar direitos e opiniões, Muitas vezes, as consequências de nossa falta de sensibilidade no falar são desastrosas! Como disse antes, tenho aprendido muito nesta área com o Pr. Abe Huber, meu discipulador. Primeiramente tenho aprendido muito através de sua conduta exemplar nesta área, mas também tenho crescido por meio dos preceitos ensinados. Nunca esqueço o dia em que, pela primeira vez, o ouvi ensinando sobre este assunto. Ele falou acerca dos efraimitas e sua forma tempestiva de agir e também falou sobre como dois líderes em Israel lidaram de forma tão diferentes com estes homens da tribo de Efraim.
A primeira situação acontece com Gideão, logo depois dele vencer os midianitas e trazer livramento a Israel. Os homens da tribo de Efraim reclamaram com ele por não terem sido convocados para a guerra, mas ele os abrandou com a sua palavra.
“Então os homens de Efraim lhe disseram: Que é isto que nos fizeste não nos chamando quando foste pelejar contra Midiã? E repreenderam-no asperamente. Ele, porém, lhes respondeu: Que fiz eu agora em comparação ao que vós fizestes? Não são porventura os rabiscos de Efraim melhores do que a vindima de Abiezer? Deus entregou na vossa mão os príncipes de Midiã, Orebe e Zeebe; que, pois, pude eu fazer em comparação ao que vós fizestes? Então a sua ira se abrandou para com ele, quando falou esta palavras” Juízes 8.1-3
Em outra ocasião, Jefté, também juiz em Israel, teve que lidar com a mesma atitude dos efraimitas. Porém, sua maneira de falar com eles e lidar com a questão foi bem diferente da de Gideão. O resultado? Uma tragédia nacional! Uma guerra civil que custou a morte de mais de quarenta mil pessoas:
“Então os homens de Efraim se congregaram, passaram para Zafom a Jefté: Por que passaste a combater contra os amonitas, e não nos chamaste para irmos contigo? Queimaremos a fogo a tua casa contigo. Disse-lhes Jefté: Eu e o meu povo tivemos grande contenda com os amonitas e quando vos chamei, não me livrastes da sua mão. Vendo eu que não me livráveis, arrisquei a minha vida e fui de encontro aos amonitas, e o Senhor mos entregou nas mãos por que, pois, subistes vós hoje para combater contra mim? Depois ajuntou Jefté todos os homens de Gileade, e combateu contra Efraim, e os homens de Gileade feriram a Efraim porque este lhes dissera: Fugitivo sois de Efraim, vós gileaditas que habitais entre Efraim e Manassés. E tomaram os gileaditas aos efraimitas os vaus do Jordão; e quando alguns dos fugitivos de Efraim dizia: Deixai-me passar; então os homens de Gileade lhe perguntavam: És tu efraimita? E dizendo ele: Não; então lhe diziam: Dize pois Chibolete; porém ele dizia: Sibolete porque não o podia pronunciar bem. Então pegavam dele, e o degolavam nos vaus do Jordão. Caíram de Efraim naquele tempo quarenta e dois mil” Juízes 12.1-6
Gideão, com sabedoria, conseguiu abrandar o coração dos efraimitas e evitou derramamento de sangue. Jefté se viu na obrigação de se defender e sustentar o seu direito e causou um grande banho de sangue.
No Novo Testamento também vemos que a inflexibilidade trouxe grande dano à Igreja de Jesus, separando dois gigantes do apostolado aos gentios: Paulo e Barnabé…
“Decorridos alguns dias, disse Paulo a Barnabé: Tornemos a visitar os irmãos por todas as cidades em que temos anunciado a palavra do Senhor para ver como vão. Ora, Barnabé queria que levassem também a João, chamado Marcos. Mas a Paulo não parecia razoável que tomassem consigo aquele que desde a Panfília se tinha apartado deles e não os tinha acompanhado no trabalho. E houve entre eles tal desavença que se separaram um do outro, e Barnabé, levando consigo a Marcos, navegou para Chipre. Mas Paulo, tendo escolhido a Silas, partiu encomendado pelos irmãos à graça do Senhor.E passou pela Síria e Cilícia, fortalecendo as igrejas.” Atos 15.36-40
Barnabé queria dar uma segunda chance a João Marcos, uma vez que na primeira viagem missionária, ele havia desistido logo no começo. Paulo por sua vez, acreditava que, justamente por ter desistido, Marcos não poderia
ir nesta segunda viagem missionária. Vejo gente advogando a causa dos dois lados. Há quem defenda o coração de Barnabé como quem acredita nos outros e há quem defenda a coerência de Paulo de que viagem missionária não é brincadeira e que, pelo comportamento errado da primeira viagem, Marcos ainda não estava pronto para a nova convocação.
Eu, particularmente, vejo um pouco de razão em cada um, mas a questão não é quem tem a razão; trata-se de sensibilidade. Cada um foi flexível em seu posicionamento e, pela discussão de quem seria (ou não) ajudante a mais, perderam a companhia principal, a parceria que Deus havia gerado desde o início (At 13.2). E preciso entender que o relacionamento vale mais do que se ter a razão na discussão.
Sabemos que depois houve algum concerto entre eles, pois Paulo, muitos anos depois, fala de Marcos como tendo sido reintegrado à equipe:
“…Toma a Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério” (2 Tm 4.11).
Que o Senhor nos dê graça e nos ensine a comunicar com nosso próximo segundo o Seu coração e os princípios da Sua Palavra!