Olhos ocultos, e bem abertos, novos desafios dos detetives no Brasil

Os detetives profissionais do século 21 pouco se parecem com as figuras icônicas do cinema e dos livros, como Sherlock Holmes, Hercule Poirot ou James Bond, que se utilizavam de suas habilidades dedutivas, uso de recursos tecnológicos (muitas vezes fictícios) e a capacidade de resolver casos complexos com uma mistura de ação e intelecto.

Mais complexa e desafiadora, a realidade dos detetives particulares no Brasil em 2024 exige formação sólida, adaptação constante às novas tecnologias, compromisso rigoroso com a ética e a conformidade legal, especialmente com a implementação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), além de registro em Conselho e atividade comercial.

Investigação particular

Não existe uma estimativa oficial do número de detetives particulares em atividade no país, pois a profissão não é regulamentada nem exige formação específica.

O que se percebe é que ela vem crescendo. Segundo o site Econodata, há 406 empresas de atividades de investigação particular no Brasil. Mas esse número pode ser bem maior porque muitos trabalham como profissionais liberais sem nenhum tipo de registro.

Um dos cursos mais conceituados (nota 5 no MEC) do país e que já formou mais de 400 detetives é o da Uninter. Reconhecido pelo Conselho de Detetives Particulares do Estado de São Paulo, o curso é referência para o Projeto de Lei de Regulamentação da Profissão,  que tramita no Congresso.

“A formação de um detetive particular em 2024 exige conhecimentos multidisciplinares que englobam direito, psicologia, tecnologia da informação e técnicas de investigação. Na Uninter, temos disciplinas como técnicas de entrevista e interrogatório e gestão estratégica da investigação”, afirma o coordenador do curso, Gerson Buczenko.

Da saída do Motel ao extravio de pets

Os casos de infidelidade ainda tomam as agendas dos detetives no Brasil, mas uma solicitação vem crescendo fortemente: o desaparecimento de pets perdidos ou extraviados. “Muitas vezes esses animais são encontrados em outras casas e os tutores precisam de provas para trazer o animal de volta”, comenta o professor

Outra modalidade que vem crescendo bastante na demanda por detetives particulares é a corporativa, com a investigação de fraudes, concorrência desleal e furtos internos. Inclusive, explica Buczenko, os detetives trabalham disfarçados e são muito reservados.

A profissão tem passado por significativas transformações nos últimos anos, impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela crescente demanda por serviços especializados.

Entre as inovações mais importantes estão:

Monitoramento Digital: O uso de softwares avançados de rastreamento e monitoramento de atividades online permite uma investigação mais eficiente e precisa.

Drones e Equipamentos de Vigilância: A utilização de drones para vigilância remota e a adoção de câmeras escondidas de alta resolução têm revolucionado a coleta de provas.

Análise de Dados: Ferramentas de análise de big data auxiliam na identificação de padrões e comportamentos suspeitos, otimizando o tempo e recursos dedicados às investigações. O uso de redes sociais é fundamental nesses casos.

Provas legais

Importante que se diga, no entanto, diz o especialista da Uninter, que o detetive só pode produzir provas de forma legal. “A lei 13.432/17, que vigora desde abril de 2017, diz que este profissional pode coletar dados de natureza não criminal para solucionar questões de interesse privado”.

Eles vêm sendo grandes aliados dos escritórios de advocacia no país. “Muitas vezes os advogados contratam detetives para obter provas que fortaleçam seus casos em tribunais”.  Um exemplo, diz o professor, são os casos de patrimônio ocultado (na mão de laranjas) em casos de corrupção ou de inventário.

Os detetives também colaboram com os agentes da lei. Não são poucas as vezes que provas de adultério são solicitadas pelos delegados que investigam casos de feminicídio. “Muitas vezes a polícia e os investigadores não têm os recursos necessários para a investigação. O detetive particular pode ajudar a solucionar muitos casos”.

E voltando ao início, nunca se esqueça: a qualquer momento, você pode estar sendo observado: ou por uma câmera de segurança ou por uma lente fotográfica.

Profissão reconhecida

Há sete anos a profissão de detetive particular autônomo foi reconhecida pela Lei 13.432/17. Agora a categoria segue na busca contínua de novas conquistas como a regulamentação da profissão de detetive profissional, conforme prevê os projetos de lei 3432/19 e 3161, de 2021, em tramitação no Congresso Nacional, que aguarda designação de relatoria na Comissão de Constituição e Justiça.

“O projeto de lei que está em tramitação é de fundamental importância para evitar que oportunistas se utilizem da profissão e prejudiquem os clientes, que necessitam dos serviços profissionais A profissão de detetive particular é de muito valor para muitos segmentos da economia, desde que exercida de forma séria”, afirmou a presidente do Conselho dos Detetives Particulares do Estado de São Paulo, Jacqueline Morais.

Há quase 30 anos ela exerce a profissão de detetive particular, seguindo os mesmos passos do seu pai. “As conquistas que obtivemos nos últimos sete anos serão legados para as próximas gerações”, finalizou.

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