O trabalho dos profissionais de investigação privada que atuam na seara criminal é fundamental para o esclarecimento de casos muitas vezes não solucionados.
O trabalho do detetive particular é um trabalho silencioso, desenvolvido nos bastidores.
No âmbito criminal as informações produzidas pelo trabalho de investigação deste profissional em muitos casos ajudam a preparar as ações policiais.
Cabe ao detetive particular ao ser contratado de acordo com o Art. 5 da Lei 13.432/17 fazer um amplo levantamento de informações para identificar novos fatos, buscar nomes, testemunhas, novos elementos de prova e analisar padrões de atuação dos envolvidos.
A atuação integrada entre os profissionais de investigação privada e polícia judiciária pode produzir resultados diretos.
Lembro de um caso de homicídio ocorrido alguns anos atrás em que atuei como colaborador com anuência da polícia judiciária, onde após 14 meses de investigação sem resultados, fui contratado por parentes da vítima para buscar novas informações e assim colaborar com o inquérito policial que ainda estava em curso. As vítimas em questão eram um casal de idosos que foram assassinados no interior do imóvel em que residiam. Segundo as testemunhas `época, o criminoso utilizou uma motocicleta de cor preta e sem placa, assim como jaqueta e capacete da mesma cor. Pouquíssimas informações apenas.
Após analisar as informações contidas e já apuradas no inquérito policial decidi colocar minha equipe em campo.
Durante 2 meses nossos agentes frequentaram a região onde ocorreu o crime e aos poucos foram se ambientando nos lugares e conhecendo as pessoas.
Após 2 meses de campana nas proximidades do local do crime, observando comportamentos e conversando com as pessoas, nenhuma nova informação foi produzida. Isso porque, após mais de um ano transcorridos do crime a vida das pessoas já havia voltado ao normal e como sempre, cada um passa a cuidar da sua vida esquecendo-se dos problemas do passado até que um dia esse mesmo tipo de problema bata à sua porta.
Sem que nada acontece-se e nenhum dado novo, decidimos provocar uma nova informação com objetivo de reascender a memória das pessoas daquele local.
PROVOCAR
“Ato de estimular a ação de um indivíduo, de contribuir diretamente em um acontecimento, fazer uma causa ter um efeito.”
Convencemos o chefe do setor de investigação da delegacia responsável pelo caso a convocar a imprensa e fazer uma nova matéria de jornal sobre o crime e informar sobre o andamento das investigações, além de pedir a colaboração da população com informações para encontrar os responsáveis. Nossa ideia era reacender a memória dos moradores daquela região e provocar novos comentários sobre o fato ocorrido. Traçado a estratégia, uma amiga jornalista de um jornal popular e de grande circulação na cidade concordou em nos ajudar e acompanhou uma viatura da policia até o local onde ocorreu o homicídio. Fotos foram feitas com a viatura e policiais em frente à residência. Dois dias depois, a manchete da capa do jornal ilustrava com destaque o caso despertando uma corrida das pessoas as bancas de jornais mais próximas. Neste dia, nossos agentes se posicionaram em pontos estratégicos como bares, padarias e bancas de jornais. Nosso objetivo era observar a reação das pessoas ao tomarem ciência da matéria e provocarcomentários que pudessem produzir novas informações.
Ao lado da residência onde ocorreu o duplo homicídio havia um pequeno comércio onde residia um outro casal de idosos conhecidos das vítimas e que à época do crime já haviam prestado depoimento na delegacia como testemunhas, onde afirmaram que as vítimas eram excelentes pessoas, queridas por todos os moradores da região, que não tinham conhecimento de nenhuma desavença ou ameaças e que no momento do crime estavam dentro de sua residência e não viram nada que pudesse colaborar com a investigação da polícia.
No entanto, passados mais de 14 meses do ocorrido ao tomarem conhecimento da reportagem, provocados por um dos nossos agentes que estava no local, a senhora idosa e vizinha das vítimas manifestou um comportamento de ira acompanhado de informações contrárias ao seu depoimento prestado anteriormente como testemunha no inquérito policial. No diálogo entre os vizinhos e o agente infiltrado ficou claro que havia uma disputa explicita de negócios entre as vítimas e seus vizinhos, além de desavenças pessoais que não foram citadas no inquérito nem por eles e por ninguém próximo.
As informações contraditórias provocaram um novo depoimento dos vizinhos das vítimas, abrindo uma nova linha de investigação que culminou na identificação e prisão do criminoso e demais envolvidos.
Resumo da história: Um caso que parecia esquecido e sem solução voltou ao cenário e foi esclarecido com a estratégia da informação provocada.