Psicologia e a investigação criminal

Fica claro na série Mindhunter que podem existir várias características que se repetem com certa frequência em criminosos e assassinos em série. Isso não significa que uma pessoa com essas características possa cometer um crime, mas se elas se apresentarem juntamente com uma tendência antissocial, aumenta a probabilidade de essa pessoa se tornar uma criminosa.

Não podemos esquecer que o ambiente influencia, mas muitos dos assassinos retratados nesta série já mostravam crueldade desde muito jovens. Foi mostrado que eles torturavam animais, espancavam seus irmãos ou exibiam um comportamento perturbador na escola. Aplicar a psicologia à elaboração de um perfil psicológico tem sido fundamental para resolver os casos e para saber quais são os padrões de comportamento mais comuns no mundo do crime. Isso ajuda a projetar melhores intervenções em criminosos, além de melhorar os programas disponíveis para prevenir o crime. Isso é retratado na série Mindhunter.

No geral, as pessoas têm a imagem mental do psicólogo como aquele terapeuta que buscam para resolver algum conflito psicológico, mas a psicologia criminal é um ramo diferente e apaixonante da psicologia.

Quando falamos da psicologia aplicada à investigação criminal, na verdade estamos falando de um conjunto de disciplinas que, juntas, fazem parte da chamada psicologia criminal. Esse campo da psicologia contempla áreas de interesse como a vitimologia, análise de cenas de crimes e a crimodinâmica. Os psicólogos criminalistas realizam, além disso, avaliações psicológicas reconstrutivas ou retrospectivas. Essas avaliações combinam conhecimentos forenses com a análise clínica da saúde mental.

Delimitar os perfis criminais é uma técnica que tenta prever o comportamento humano em relação ao delito. Por exemplo, a análise e a interpretação de evidências encontradas na cena do crime ou o modus operandi podem apontar para um tipo de personalidade criminosa ou, o que não é de menor valia, contribuir para descartar outros perfis.

Psicologia Criminal dedica-se a compreender a mente e o comportamento dos criminosos.

Por meio de extensivas pesquisas e análises, os profissionais dessa área buscam desvendar os padrões cognitivos, comportamentais e emocionais que podem influenciar a inclinação de um indivíduo a cometer crimes.

Através deste conhecimento, procura-se tanto a prevenção de atos criminosos quanto a reabilitação daqueles que já cometeram infrações.

O estudo da Psicologia Criminal não se limita apenas a entender o perfil criminal dos suspeitos, mas também a dinâmica da vítima, ao papel das testemunhas e a forma como a sociedade, em geral, reage e interage com o crime.

Com o avanço das abordagens multidisciplinares na justiça penal, a psicologia forense criminal ganha relevância tanto no sistema judiciário quanto na sociedade. Por isso, muitos estudantes buscam saber: Quem faz psicologia pode ser perito criminal?.

Essa área se entrelaça com o Direito, a Sociologia, a Criminologia e até mesmo com a Biologia, ao considerar aspectos neuropsicológicos relacionados ao comportamento criminoso.

Com a crescente onda de crimes complexos e o aumento da consciência sobre a importância de abordagens multidisciplinares na justiça penal, a Psicologia Criminal ganha relevância não apenas no sistema judiciário, mas também na sociedade em geral.

Este artigo pretende explorar o que é Psicologia Criminal, os principais conceitos, desafios e avanços recentes nesta área, proporcionando uma visão ampla e aprofundada sobre o papel da mente no universo do crime. Acompanhe!

O que é Psicologia Criminal?

A Psicologia Criminal é uma subdisciplina da Psicologia Jurídica que se concentra na compreensão dos pensamentos, sentimentos e comportamentos dos criminosos e na interação destes com o sistema de justiça penal.

Ela explora as razões pelas quais certos indivíduos cometem crimes e como podem ser prevenidos ou reabilitados. Em sua essência, a Psicologia Criminal busca responder a pergunta: “Por que as pessoas cometem crimes?”.

Esta área de estudo integra conhecimentos de diversas áreas da psicologia, como a psicologia clínica, social e do desenvolvimento, para compreender a complexidade do comportamento criminoso. Isso inclui estudar fatores de risco, gatilhos ambientais, traços de personalidade, disfunções neurológicas e históricos de trauma ou abuso.

O objetivo é desenvolver perfis, identificar padrões de comportamento e, em última análise, propor intervenções ou tratamentos adequados.

Além do foco no criminoso, a Psicologia Criminal também investiga o processo de vitimização, o papel das testemunhas e os efeitos psicológicos do crime na sociedade. Profissionais da área, como o psicólogo criminal, muitas vezes trabalham em conjunto com a polícia, tribunais, prisões e outras instituições relacionadas à justiça penal, oferecendo avaliações, consultoria e orientação especializada para informar e aprimorar o sistema de justiça.

Psicologia Jurídica e Psicologia Criminal são a mesma coisa?

Há diferença entre Psicologia Criminal e Psicologia Jurídica ou são a mesma coisa?

Embora frequentemente confundidas ou usadas de forma intercambiável, a Psicologia Jurídica e a Psicologia Criminal são, de fato, distintas, embora inter-relacionadas. Ambas são subáreas da psicologia aplicada e operam dentro do contexto do sistema de justiça, mas seus focos e escopos diferem de maneiras cruciais.

Psicologia Criminal

A Psicologia Criminal é especializada no estudo do comportamento de indivíduos que cometem crimes. Ela busca compreender as motivações, padrões comportamentais e fatores psicológicos que levam uma pessoa a cometer atos criminosos.

Os psicólogos criminais muitas vezes trabalham em estreita colaboração com a polícia ou outras agências de aplicação da lei, ajudando na elaboração de perfis criminais, avaliação de suspeitos e no tratamento e reabilitação de infratores.

Psicologia Jurídica

Por outro lado, a Psicologia Jurídica tem um escopo mais amplo e abrange uma gama variada de atividades relacionadas à interseção entre a psicologia e o sistema legal.

Ela não se restringe apenas ao estudo de criminosos, mas também aborda questões como avaliação de competência mental para julgamento, guarda de crianças em disputas de custódia, avaliação de trauma em vítimas, testemunhos e credibilidade da memória, entre outros. Os psicólogos jurídicos podem atuar em diversos ambientes, desde tribunais até centros de reabilitação e instituições de pesquisa.

O que faz um psicólogo criminal?

A atuação do psicólogo criminal é diversificada e engloba uma série de responsabilidades que vão além da simples avaliação de criminosos. Seu trabalho é multifacetado e abrange tanto a compreensão da mente e comportamento do infrator quanto o suporte às vítimas e testemunhas.

Além disso, esses profissionais fornecem insights valiosos através de assessorias e consultorias. Veja algumas de suas principais funções:

Avaliação psicológica

Um dos principais papéis de um psicólogo criminal é a avaliação psicológica de indivíduos envolvidos em atividades criminosas. Isso inclui entender as motivações por trás de seus atos, sua saúde mental e capacidade de discernimento no momento do crime e a probabilidade de reincidência.
Essas avaliações são essenciais para determinar a responsabilidade criminal, o tipo de reabilitação necessária ou até mesmo a capacidade do indivíduo de ser julgado.

Perfil criminal

A elaboração do perfil criminal é uma especialidade dentro da Psicologia Criminal que auxilia as forças de segurança na identificação de possíveis suspeitos de crimes não resolvidos.

Utilizando-se de padrões comportamentais, traços psicológicos e evidências do crime, os psicólogos criminais conseguem traçar um “retrato” do possível autor, facilitando sua localização e captura.

​​Apoio a vítimas e testemunhas

Para além do foco no criminoso, o psicólogo criminal também tem a responsabilidade de apoiar vítimas e testemunhas. Isso pode envolver ajudá-las a lidar com o trauma pós-crime, prepará-las para testemunhar em tribunal ou até mesmo avaliar a confiabilidade de seus testemunhos. O apoio emocional e psicológico oferecido por estes profissionais é essencial para a recuperação das vítimas e para assegurar que a justiça seja feita.

Assessoria e consultoria

​​​​​​​Os psicólogos criminais frequentemente prestam consultoria a departamentos policiais, instituições penais e até mesmo escritórios de advocacia.
Seu conhecimento profundo sobre a mente humana e o comportamento criminoso é valioso para orientar investigações, aprimorar técnicas de interrogatório e influenciar políticas públicas relacionadas à prevenção do crime e à reabilitação de criminosos.

Quais as áreas da Psicologia Criminal?

A Psicologia Criminal é uma disciplina vasta e multidimensional que abrange vários subcampos.

Cada uma dessas áreas foca em diferentes aspectos do sistema de justiça penal e das interações entre indivíduos e a lei. Explorar esses subcampos ajuda a entender a amplitude e profundidade dessa especialidade.

Conheça algumas delas:

Avaliação forense

​​​​​​​Dentro da vastidão de campos que a Psicologia Criminal abrange, a avaliação forense ocupa um lugar de destaque, dada a sua influência direta nas decisões judiciais e a gravidade das consequências dessas decisões na vida dos indivíduos envolvidos.

A avaliação forense refere-se ao processo de coleta e interpretação de informações psicológicas com o objetivo de responder a uma questão específica apresentada pelo sistema judicial.

Ao contrário da prática clínica convencional, em que o foco é o bem-estar do paciente, na psicologia criminal forense, o principal objetivo é fornecer informações objetivas e precisas ao tribunal, independentemente das implicações para o examinado.

Principais responsabilidade da avaliação forense

Algumas das principais atividades e responsabilidades na avaliação forense incluem:

  • competência para ser julgado: avaliar se um indivíduo tem a capacidade mental e emocional para compreender os procedimentos legais e cooperar com sua defesa;
  • responsabilidade criminal: analisar se, no momento do crime, o indivíduo tinha uma condição mental que o impedia de entender a natureza de seus atos ou de distinguir entre certo e errado;
  • avaliação de danos: estabelecer a gravidade do dano psicológico sofrido por vítimas de crimes ou acidentes;
  • avaliação de risco: estimar a probabilidade de um indivíduo cometer futuros atos violentos ou criminosos;
  • recomendações de tratamento: sugerir intervenções ou tratamentos adequados para indivíduos sob custódia ou em reabilitação.

Psicologia penitenciária

​​​​​​​A psicologia penitenciária é uma subespecialidade da Psicologia Criminal que se concentra na avaliação, intervenção e pesquisa relacionadas a indivíduos que estão encarcerados ou que passaram pelo sistema prisional.

Esta área da psicologia busca compreender as complexidades do comportamento humano dentro do contexto carcerário e fornecer ferramentas e estratégias que promovam a reabilitação e prevenção da reincidência.

Principais focos da psicologia penitencirária

A seguir, apresentam-se alguns dos principais focos e atividades da psicologia penitenciária:

  • avaliação: a avaliação de detentos é crucial para determinar suas necessidades de tratamento, risco de reincidência e potencial para violência. Isso inclui avaliações de saúde mental, risco de suicídio e aptidão para programas de reabilitação;
  • intervenção e tratamento: muitos detentos têm histórias de trauma, dependência química e distúrbios de saúde mental. A psicologia penitenciária trabalha na implementação de programas de terapia e intervenção que abordem essas questões, promovendo a reabilitação;
  • manejo de crise: dentro das prisões, situações de crise podem surgir rapidamente. Psicólogos penitenciários são frequentemente chamados para lidar com situações de autoagressão, tentativas de suicídio ou conflitos intensos entre detentos.
  • reintegração à sociedade: preparar os detentos para a reintegração na sociedade é uma parte vital do trabalho.

Prevenção do crime

​​​​​​​A prevenção do crime é uma área estratégica da Psicologia Criminal que se dedica a entender as causas subjacentes da criminalidade e desenvolver medidas para impedir a ocorrência de crimes.

Em vez de responder reativamente após o cometimento de um crime, o foco aqui é proativo, tentando impedir que crimes ocorram. Ao compreender os fatores psicológicos, sociais e ambientais que influenciam o comportamento criminoso, é possível criar estratégias e intervenções para reduzir a probabilidade de tais comportamentos.

Principais aspectos

A seguir, são apresentados alguns dos principais aspectos da prevenção do crime na Psicologia Criminal:

  • estudos de risco: identificar indivíduos ou grupos em risco de cometer crimes permite uma intervenção precoce. Esses estudos observam fatores como histórico familiar, trauma, abuso de substâncias e outras condições socioeconômicas;
  • mediação e resolução de conflitos: antes que disputas e tensões se transformem em atividades criminosas, a intervenção por meio da mediação pode resolver conflitos de forma pacífica;
  • desenho ambiental: o ambiente físico pode ser projetado de forma a desencorajar crimes. Isso inclui melhor iluminação, câmeras de segurança e planejamento urbano que promova comunidades mais unidas e vigilantes;
  • reabilitação e intervenção: trabalhar com criminosos condenados para tratar as causas subjacentes do comportamento criminoso é essencial. Isso pode incluir terapia, treinamento profissional e programas de reintegração social.

Vítimas e trauma

​​​​​​​A Psicologia Criminal não se limita apenas ao estudo e compreensão dos criminosos. Uma área fundamental desta disciplina envolve a análise e o tratamento do trauma experimentado pelas vítimas de crimes.

Vítimas de crimes violentos, abuso, negligência ou qualquer outra forma de criminalidade muitas vezes enfrentam consequências psicológicas duradouras. O trauma resultante de tais experiências pode ser profundo e pode afetar significativamente o bem-estar e a funcionalidade das vítimas.

Principais focos da análise e tratamento de traumas

Aqui estão alguns dos focos centrais quando se trata de vítimas e trauma na Psicologia Criminal:

  • avaliação do trauma: a primeira etapa do processo é avaliar a extensão e a natureza do trauma. Isso envolve uma compreensão detalhada dos eventos traumáticos, bem como dos sintomas psicológicos que a vítima está experimentando;
  • apoio durante processos judiciais: o sistema judicial pode, involuntariamente, retraumatizar vítimas ao forçá-las a reviver e testemunhar sobre suas experiências traumáticas. O suporte psicológico durante este processo é essencial para ajudar a vítima a lidar com essas situações.
  • prevenção de trauma secundário: é importante que as vítimas sejam tratadas com cuidado e sensibilidade por todos os profissionais envolvidos, para evitar o que é conhecido como trauma secundário — quando a resposta ou falta de resposta dos profissionais pode causar mais danos à vítima.

Psicologia investigativa

​​​​​​​A psicologia investigativa é uma especialização dentro da Psicologia Criminal que se concentra na compreensão do comportamento dos criminosos e na aplicação desse conhecimento para auxiliar nas investigações criminais.

Por meio da aplicação de teorias psicológicas, métodos e práticas, os psicólogos investigativos trabalham em conjunto com as autoridades policiais para analisar evidências comportamentais e traçar perfis de suspeitos. Eles desempenham um papel crucial na identificação, localização e eventual captura de criminosos.

Principais áreas da psicologia investigativa

Aqui estão algumas das principais áreas de atuação da psicologia investigativa:

  • elaboração de perfis criminais: talvez o aspecto mais conhecido da psicologia investigativa, a elaboração de perfis envolve analisar informações sobre crimes não resolvidos para criar um “perfil” do provável perpetrador. Isso pode incluir detalhes sobre a aparência física, traços de personalidade, hábitos e possíveis motivações.
  • análise da cena do crime: a forma como um crime é cometido pode revelar muito sobre o criminoso. Psicólogos investigativos examinam a cena do crime buscando padrões ou significados que possam indicar um determinado tipo de criminoso ou motivo.
  • interrogatórios e entrevistas: o uso de técnicas psicológicas pode ser essencial para obter informações de suspeitos ou testemunhas. Entender a linguagem corporal, os padrões de fala e as motivações pode ajudar os investigadores a discernir a verdade;
  • análise de comportamento geográfico: analisando onde os crimes ocorrem, os psicólogos podem ajudar a prever onde um criminoso pode atacar a seguir ou onde ele pode estar se escondendo.

Políticas públicas de justiça criminal

​​​​​​​A influência da Psicologia Criminal não se limita apenas ao ambiente imediato do crime ou do tribunal. Psicólogos criminais também são consultados na formulação de políticas públicas relacionadas à justiça, buscando criar sistemas mais eficazes, justos e humanos. Eles ajudam a moldar leis, procedimentos e diretrizes que orientam todo o sistema de justiça penal.

Autora: Andréia Dorneles Severo, Psicóloga formada pela PUCRS, Experiência em atendimentos a crianças, adolescentes e adultos, grupos terapêuticos, formação pessoal.

Cursos em Especialidades Médicas pelo HCPA, Competências Profissionais, Emocionais e Tecnológicas para Tempos de Mudanças pela PUCRS.

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