Até março deste ano o Facebook divulgou que cerca de 1,94 bilhão de pessoas utilizam a rede social em todo o mundo. Já o Whatsapp anunciou em seu blog que um bilhão de pessoas utilizam o aplicativo todos os dias e em média são 55 bilhões de mensagens enviadas por dia. No Brasil são mais de 120 milhões de usuários ativos no Whatsapp. Com base em todos esses dados, o post de hoje é sobre o tema: Você sabe como ocorre a investigação forense no Facebook e no Whatsapp?
Redes sociais a serviço da justiça
Esses números representam para a polícia uma imensidade de informações que podem contribuir com a investigação policial de um suspeito ou vítima relacionados a um crime para encontrar evidências e gerar provas.
E isso não se limita a crimes cibernéticos. Abuso sexual, pedofilia, roubo, sequestro, homicídio, estelionato e diversos outros tipos de crimes podem deixar rastros nas redes sociais. O criminoso pode utilizar a rede social como meio ou apoio para executar o ato ilícito.
Sendo assim, qualquer investigação pode-se incluir uma análise forense em redes sociais para o encontro de vestígios e até mesmo a infiltração de agentes para desvendar crimes. Ainda mais nesse cenário em que as pessoas estão cada vez mais conectadas.
Essa prática é utilizada para coletar informações pessoais que podem complementar uma investigação já iniciada ou até mesmo ser o ponto de partida. Lembrando que só podemos ingressar em dados protegidos com autorização judicial.
Antes de abordar sobre as investigações no Facebook e Whatsapp, é sempre bom reforçar as fases de uma investigação forense:
1ª fase: coleta e preservação de informações;
2º fase: extração de informações;
3ª fase: análise das informações;
4ª fase: produção do laudo pericial;
Investigação forense no Facebook e no Whatsapp
As informações postadas no Facebook ou em qualquer outra rede social são muito importantes no processo de investigação. O compartilhamento de fotos, acontecimentos, locais e textos é uma forma de ter propriedade de informações e comportamentos sobre os suspeitos de algum crime em investigação.
As informações que uma pessoa posta publicamente são monitoradas e analisadas para servir como registros e consequentemente provas. O Facebook é rico de informações. A linha do tempo fornece um histórico da vida de uma pessoa, fotos, localização, postagens e até mesmo as curtidas e comentários podem contribuir com as evidências para desvendar um crime.
No final do trabalho isso gera uma teia detalhada de dados. Trabalhamos muito bem essa engenharia social. Essas análises são integradas aos sistemas e ferramentas já utilizadas pela polícia.
Investigação forense no Whatsapp
Em 2015 e 2016 a justiça brasileira determinou o bloqueio do Whatsapp por 4 vezes em todo o Brasil devido a empresa se negar a fornecer mensagens trocadas entre suspeitos envolvidos em uma investigação.
O Whatsapp utiliza recursos de criptografia ponta a ponta. Ou seja, a mensagem enviada pelo emissor é embaralhada com o uso de um código. Quando o destinatário recebe essa mensagem, ela vem junto com uma chave criptográfica, chave essa que ninguém tem acesso, impossibilitando assim a espionagem da conversa.
A criptografia do Whatsapp é um grande desafio para as investigações. É uma verdadeira queda de braço com a justiça. Quebrar essa criptografia sem ter acesso ao equipamento ainda não é possível, estamos estudando para resolver esse problema.
Como investigar conversas no Whatsapp mesmo com a criptografia?
Com o acesso ao aplicativo dos suspeitos envolvidos, seja apreensão do equipamento ou pela infiltração de pessoas para conseguir ter acessos às conversas, os peritos conseguem investigar por meio das análises de informações e mensagens trocadas.
O ideal seria se o Whatsapp contribuísse com a justiça brasileira. Os termos de compromisso de uso deveriam ser mais flexíveis com a inclusão de repasse de informações mediante ordem judicial. Assim teríamos uma investigação mais ágil e precisa.
O Brasil não pode ficar na dependência de empresas internacionais para a liberação de acessos para a investigação. É preciso evoluir, entender o impacto das tecnologias e buscar soluções que contribuam com o nosso trabalho de esclarecer a verdade para a justiça.
Um grande exemplo é o departamento de polícia nos EUA New York City Police Department (NYPD) que possui unidades específicas para investigação em redes sociais.
As mídias sociais como um todo contribuem com a justiça na coleta de informações, identificação de testemunhas e provas na solução de crimes. A justiça e as empresas provedoras de mídias sociais precisam entrar em um acordo. E urgente!
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Erick Simões Camara e Silva
Perito Criminal Federal, Mestre em Direito e Mestre em Química e professor do curso de pós-graduação em Computação Forense e Perícia Digital do IPOG.